domingo, 14 de agosto de 2011

CONFIANÇA E CRÉDITO

Os melhores comentadores vão escrevendo e dizendo que o que falta é confiança. Que não há crédito todos sabemos. Aí estão dois conceitos-base da religião. Confiança vem de fides, donde vem fé, fiar-se de, confiar. Crédito vem de credere, donde vem crer, crença, acreditar. Mas eles estão na base da existência. Quem pode viver sem confiança? Quem se meteria num avião, na estrada, sem confiança?
O problema é: o quê e quem tem crédito, para merecer a nossa confiança? Porque não podemos confiar de modo cego. No quadro do perigo possível e do medo, a confiança tem de ser razoável.
"Nos contos de fadas de Grimm, há o relato sobre um jovem que saiu à procura de aventuras para aprender a ter medo. Deixaremos que o aventureiro siga o seu caminho,sem nos preocuparmos com saber se nele se cruzou com o horror. O que quero afirmar, isso sim, é que se trata de uma aventura que todos têm de enfrentar: aprender a ter medo, para não se perder, porque nunca se sentiu receio ou porque se está afundado no medo; quem aprende a temer de modo correcto aprendeu o mais importante." O outro é de Ernst Bloch: "Havia uma vez um jovem que foi pelo mundo para aprender o medo. Em épocas passadas, isso acontecia de modo mais fácil e imediatamente: a arte do temor aprendia-se com terrível facilidade. Mas, agora, a não ser quando isso se justifica realmente, é apropriado cultivar um sentimento mais moderado. Agora, trata-se de aprender a ter esperança. A esperança nunca renuncia ao seu trabalho. Está enamorada do êxito, não do fracasso. A esperança é superior ao temor, pois não é passiva como este, nem tão-pouco está mergulhada no nada. O sentimento da esperança sai para fora, abre os seres humanos em vez de limitá-los."
Tanto a esperança como o temor se enfrentam com o possível. No medo, com o perigo possível; na esperança, com a salvação possível. O futuro é sempre imprevisível e ambíguo, pois a História é processo e ainda não está decidida. Sem o temor, não nos aperceberíamos do possível perigo; sem a esperança e só com o temor, ficaríamos paralisados. Sintetiza J. Moltmann: embora a esperança seja superior ao temor, "o medo é o irmão inevitável e óbvio da esperança".


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