domingo, 29 de janeiro de 2012

DOIS INVESTIGADORES PORTUGUESES GANHAM MAIOR BOLSA DE ESTUDO EUROPEU DE INVESTIGAÇÃO


O cientista Miguel Soares e a historiadora Rita Marquilhas foram os únicos portugueses a ganharem o concurso de 2011 das bolsas atribuídas pelo Conselho Europeu de Investigação, as maiores ao nível europeu. Os dois cientistas recebem ao todo quatro milhões de euros ao longo de cinco anos.
Soares, líder do grupo de Inflamação, que trabalha no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), vai receber 2,2 milhões de euros para determinar quais os mecanismos que impedem a destruição dos órgãos, e são a causa de morte quando se contrai doenças como a sepsis grave ou a malária.
Nestas doenças, o corpo pode acabar por perecer não directamente por causa dos agentes patogénicos, mas pelos danos infligidos nos tecidos e órgãos, causados por toxinas libertadas pelos agentes. Os resultados passados da equipa já deram indicações dos processos que normalmente evitam estes danos. Com este financiamento, a equipa quer testar estas descobertas.
Proteger os tecidos de serem destruídos durante uma infecção é quase tão importante do que combater os agentes patogénicos. Vale a pena tentar identificar de uma maneira muito mais global quais são os mecanismos que protegem os tecidos”, explicou o cientista, ao PÚBLICO.
Para isso, a equipa vai utilizar uma série de ratinhos transgénicos, em que se retiraram os mecanismos que se pensa protegerem os órgãos dos animais durante a infecção. O objectivo é infectar estes ratinhos para verificar se, de facto, os roedores deixam de ter capacidade de evitar a destruição dos órgãos. Os resultados poderão apontar para novas estratégias terapêuticas para controlar estas infecções.

Já o trabalho de Rita Marquilhas, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, está nos antípodas da pesquisa de Soares. A historiadora da língua está a fazer uma recolha de correio privado português e espanhol entre o século XVII e o início do século XIX. Marquilhas ganhou 1,8 milhões de euros e propôs disponibilizar online, com informação contextual, os facsímiles de 7000 cartas pessoais que foram confiscadas pelo Tribunal da Inquisição e, mais recentemente, pela Casa da Suplicação, para servirem de prova em julgamentos.Podem ser dois amantes a trocarem uma carta de amor ou um filho a justificar-se ao pai por um erro que pode ter cometido. Por alguma razão, um desses dois tribunais achou que a carta provava uma culpa”, disse ao PÚBLICO Rita Marquilhas. A equipa da historiadora esteve na Torre do Tombo a folhear processo atrás de processo para encontrar estas cartas, que têm valor para a investigação linguística e histórica.

Ao contrário dos documentos oficiais guardados em arquivos, escritos por autoridades, ou textos literários impressos, que ficaram nas bibliotecas, estas cartas nunca foram pensadas para serem lidas pelo público, só pelos destinatários. Por isso têm “uma linguagem muito mais coloquial”, disse Marquilhas, aproximada da língua falada.

FONTE--PUBLICO

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