quarta-feira, 13 de agosto de 2014

1-a GUERRA MUNDIAL


Há 100 anos, começou a 1ª Grande Guerra
Quando começou o século XX, desejava-se que este fosse um século de paz, tão violenta tinha sido a centúria de 1800!... Engano! Depois da morte do Arquiduque  Francisco Fernando e sua mulher em Sarajevo em 28 de Junho, passou um mês e veio a declaração de guerra à Sérvia...
Escrevia o Conde Leopold von Berchtold, ministro austro-húngaro dos negócios estrangeiros, a Pashitch, seu correspondente sérvio, ao final da manhã de 28 de Julho:"
"Vienna, 28 July 1914
The Royal Serbian Government not having answered in a satisfactory manner the note of July 23, 1914, presented by the Austro-Hungarian Minister at Belgrade, the Imperial and Royal Government are themselves compelled to see to the safeguarding of their rights and interests, and, with this object, to have recourse to force of arms.
Austria-Hungary consequently considers herself henceforward in state of war with Serbia.
Count Berchtold"
Começava a guerra mundial!!!


No dia 1 de Agosto de 1914, o jornal L’Humanité, que Jean Jaurès fundara e dirigia, trazia, ao largo de toda a primeira página a notícia sobre a morte do seu director sob o título “Jaurès assassiné”.
Na noite do dia anterior (passam hoje 100 anos), Jaurès jantava com colegas e amigos no café “du Croissant”, em Paris, bem perto do jornal em que trabalhava e, pelas 21h40, era alvejado mortalmente por Raoul Villain, jovem nacionalista adepto da entrada na guerra. Assim terminava o percurso de 54 anos de um dos mais célebres oradores, chefe socialista, pacifista, que consternou a França, país que estava a um passo de entrar na Grande Guerra.
No dia anterior, em 30 de Julho, Jaurès publicara no L’Humanité um texto que reflectia a sua posição contra a entrada na guerra, que toda a gente achava emergente: «Les forces de paix pourront donc s’exercer. Le devoir redouble pour nous tous d’utiliser ces jours ou ces heures de répit pour dénoncer le crime, pour affirmer et organiser la solidarité des prolétaires de tous pays contre l’abominable menace.»
A segunda quinzena de Julho fora, de resto, vivida por Jaurès num incessante combate contra a guerra e em favor da paz. Célebre ficou o seu último discurso, em Vaise (Lyon), em 25 de Julho, perante numerosa multidão: «Je veux vous dire ce soir que jamais nous n’avons été, que jamais depuis quarante ans, l’Europe n’a été dans une situation plus menaçante et plus tragique que celle où nous sommes à l’heure où j’ai la responsabilité de vous adresser la parole.» Era a descrença na resolução diplomática do conflito que opunha a Áustria-Hungria à Sérvia desde o assassinato de Francisco Fernando (28 de Junho), com o receio de uma catástrofe, que, na verdade, se agigantava. E Jaurès avisava: «À l’heure actuelle, nous sommes peut-être à la veille du jour où l’Autriche va se jeter sur les Serbes, et alors Autriche, Allemagne se jetant sur les Serbes et les Russes, c’est l’Europe en feu, c’est le monde en feu. (…) La politique coloniale de la France, la politique sournoise de la Russie et la volonté brutale de l’Autriche ont contribué à créer l’état de choses horrible où nous sommes. L’Europe se débat comme dans un cauchemar.»
O pesadelo aproximava-se. E mais vertiginosamente do que parecia, como a História comprova.
No seu diário de 1 de Agosto de 1914, publicado sob o título É a guerra (1934, com reedição recente pela Bertrand), Aquilino Ribeiro, que estava em Paris, escrevia: «Pouco se fala em Jaurès, ídolo da multidão. Em tempo ordinário o seu assassínio teria provocado o massacre dos extremistas da “Action Française”; a revolta, talvez, do Paris popular. O mundo acaba de perder neste político de cabeça sempre erguida para o céu uma das suas generosas e magníficas forças. Era o tribuno por excelência. Ouvia-se com o mesmo prazer com que se ouve um trecho de Beethoven executado pela orquestra Lamoureux ou tirada da Antigone declamada pela Bartet. A última vez que me foi dado gozar tal prazer foi nas Buttes-Chaumont, combatiam os socialistas encarniçadamente a lei militar dos três anos. No bom gigante barbaçudo, passos pesados de cá para lá e de lá para cá de urso em jaula, olhos luminosos divisando para além do horizonte comum, voz martelada de sonoro metal, havia ao dispor, revolver, sacudir o auditório qualquer coisa da magnitude do vento a encapelar o mar. A Terceira República não conta personalidade mais alta. Em meu peito choro-o como se fôssemos do mesmo lar.

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