Fernando Pessoa Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.(Enlaçemos as mãos). Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,Mais longe que os deuses.Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente.E sem desassossegos grandes.
Prefiro rosas, meu amor, à pátria,E antes magnólias amo Que a glória e a virtude. Logo que a vida me não canse, deixoQue a vida por mim passe Logo que eu fique o mesmo. Que importa àquele a quem já nada importaQue um perca e outro vença,Se a aurora raia sempre, Se cada ano com a PrimaveraAs folhas aparecemE com o Outono cessam?E o resto, as outras coisas que os humanos .Acrescentam à vida,Que me aumentam na alma?